Digitalização do Paciente

A Digitalização está relacionada com a otimização dos processos através da utilização de tecnologias digitais, envolvendo a angariação e integração de dados, mas para análise de informação e de indicadores de desempenho para tomada de decisão, com o objetivo final de tornar os processos mais eficientes. Nesta fase passamos do “sensing” – de sensor, isto é, da pura leitura de dados para o “sensemaking”, que agrega valor aos dados e usa a informação gerada para transformar fundamentalmente os processos instituídos e criar novas oportunidades de valor. A Transformação Digital é algo com um alcance ainda maior, pois trata-se da transformação das Organizações possibilitado pela digitalização e tecnologias inerentes, levando a uma mudança organizacional e operacional, mas sobretudo cultural, que se consegue através da integração de tecnologias, processos e competências de forma transversal aos diferentes níveis e funções da Organização.

A forma como consumimos Saúde transformou-se nos últimos 3 anos. A tecnologia tem vindo a transformar o setor da saúde, permitindo a introdução de novas soluções na prestação de cuidados de saúde focadas no paciente. Aprendemos que, agora, podemos escolher não perder tanto tempo nas salas de espera, nos atos médicos e nas deslocações para receber esses mesmos atos. Esta mudança provocada pela Pandemia de COVID-19 veio para ficar, sendo exemplo disso o recurso à telemedicina que aumentou 38 vezes comparativamente ao período pré-COVID e à crescente procura de monitorização e cuidados remotos com acesso a dados interoperáveis. Fato curioso a faixa etária que mais tem crescido na adesão a estes novos serviços digitais: as pessoas da “Silver Economy”, ou seja, os pacientes com mais de 60 anos. Fruto da transformação provocada pela COVID-19, 38% das pessoas utilizam agora mais serviços digitais, sendo que 54% mantém a pretensão de continuar a utilizar a versão digital do serviço.

Outro elemento a considerar nesta transformação é a crescente utilização de “wearables”, sejam eles monitores de biodados, como os “smartwaches” e os“smart-rings”, entre outros mais sofisticados. A maioria dos utilizadores destes aparelhos redefiniram o conceito de “welness”, valorizando agora 6 diferentes dimensões: 1. Melhor Saúde; 2. Melhor “Fitness”; 3. Melhor Nutrição; 4. Melhor Aparência; 5. Melhor Sono; 6. Melhor “Mindfulness”.

Também a utilização de APP´s de Saúde contribui para uma melhoria no acesso aos cuidados de saúde e no desenvolvimento de um modelo de prestação de cuidados, focado em valor e nos “4Ps medicine”, registando-se um crescimento exponencial do uso de “Digital Health apps”, existindo atualmente mais de 350 000 aplicações de saúde disponíveis no mercado global. São adicionadas no mercado cerca de 250 aplicações por dia. Também esta transformação levanta diversas questões, nomeadamente ao nível da privacidade e segurança, sendo a introdução de mecanismos de proteção de dados e o “compliance”, aspetos importantes para aumentar a confiança dos profissionais de saúde e pacientes, levantando-se ainda o problema da prescrição de APP´s de Saúde. Portugal ainda não faz parte da “European Taskforce for Harmonised Evaluation of DMDs” e registam-se diferentes níveis de maturidade na UE, relativamente ao processo de reembolso das aplicações digitais. A Alemanha, França e Bélgica posicionam-se como líderes no processo de adoção, oferecendo o melhor ecossistema de entrada no mercado para reembolso de aplicações digitais de saúde e constituem-se como os mercados mais maduros na prescrição de soluções digitais em saúde na União Europeia, por via da implementação de mecanismos de “fast-track”. Adotaram mecanismos para a prescrição e reembolso, assente em critérios de viabilidade tecnológica, avaliação de risco e evidência clínica. Num mundo cada vez mais digital e conectado, é essencial transportar esse sentimento para a saúde: uma visão única do paciente, mas para isso é imprescindível criar ecossistemas que conectem verdadeiramente pacientes e clínicos, virtual e presencial, no “mundo global” dos prestadores de serviços de saúde. A agilidade corporativa e organizacional é uma qualidade sem a qual não será possível aos prestadores de saúde continuarem a acompanhar a evolução do mercado, colocando em risco a sua sobrevivência, pois a tecnologia está num ponto em que o que é válido hoje, no próximo mês poderá já não ser.

Por exemplo, no Montepio RDL há vários processos em transição digital: “MySenior” (direcionado para os utentes do Lar e das Residências); Gestão Documental Digital (pretende-se atingir a meta de zero papel); Sistema de Gestão de Fila (Patient Journey); Transição dos Servidores para Cloud; Implementação de um novo Sistema de Gestão Hospitalar com ligação à APP do paciente.

As tendências para 2023 passam por 4 áreas: “Analytics”, “Machine Learning” e IA” (análise e utilização de dados), Cloud (permitiu reduzir barreiras à entrada de novas plataformas tecnológicas); Reconhecimento por voz (irá ajudar a reduzir tempos de consulta, contato com clientes infectados e reduzir o tempo de introdução de dados); 5G e “Blockchain” (otimizar a movimentação do hospital para casa, a introdução do “IoMT – Internet of Medical Things” e dos “wearables”, o que irá requerer uma nova geração de rede e arquitetura, para garantir confiança e capacidade de resposta.

No fundo, a transição digital significa, de forma simplificada, duas coisas: fazer o mesmo usando menos recursos e fazer mais com menor investimento.

Todas estas invenções, à medida que são aplicadas, vão moldando os processos, os sistemas e os modelos que vêm sendo utilizados há décadas, criando um ambiente que diariamente terá de evoluir a partir da inovação, pois apenas dessa forma conseguiremos acelerar a criação de valor na prestação dos cuidados de saúde ao paciente, reposicionando e movendo a pessoa para o centro de todo o ecossistema.

Paulo Ribeiro

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